crônicashoras…

a gente já não pensa mais antes de falar…

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II.

with one comment

não posso, não pude, não poderei. que inferno do poeta em contratempo, capitalismo anti-ciclo, e minhas costas doem…

tão fácil seria se as coisas que devemos realizar fossem apenas das tarefas mecânicas. já está em cada homem responder naturalmente a estímulos, se assim normal o for, se assim comumente habituado –  detesto tal sensação de trapacear com palavras, mas a natureza, por mais que nos oponhamos a ela enquanto nossos critérios embaçam a vista, nos habita -, mas não é questão. nem o tino criador que tira cupins de seus ninhos e faz nuvens chorar com prata é capaz de responder àquilo que falo. e se há a necessidade, toda ela, enquanto que nos move, é só um desenrolar de nosso tempo – e a forma como o matamos nos permite julgar o caráter de cada um. o fazer enquanto alívio do espírito – sendo espírito o que não é corpo apenas, mas a plasmática entidade que porventura representa aquilo que entendemos por sujeito, individualidade, discernimentos, julgamentos e vozes na cabeça – nos liga ao que está fora de nós. toda a ação humana, enquanto responde a seus anseios mais biológicos, aparenta capturar do externo para si, alimento. mas o que anseia o espírito que não ligar-se com o externo, tornar-se parte do todo? quando a dimensão social se compõe de tudo aquilo que não é cada um de nós individualmente, mas que nos conforma, ela nos dá todos os meios de a ela nos ligarmos. e são todos dela. tudo que torna a nós enquanto alimento ao espírito, em aparência, retorna ao seu crivo enquanto reação. o fazemos com os meios?

só tenho isso, para durar. resistir ao que me fazem fazer… e nisso sou excelente.

não consigo fazer nada.

Written by topsyturvydom

novembro 3, 2008 at 2:40 am

Publicado em confessions

.amena.solidão

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-… e tomava em mão uma série de gestos ritmados que se assemelhavam ao toctoctoc de sua cabeça. o carro balançava muito pouco para que soasse apenas inércia, e já irritava ouvidos alheios. ele, no entanto, apenas apresentava um meio-sorriso, como se já soubesse exatamente o que dizer. torna a olhar para o lado, e ela ainda se concentrava nos livros que carrega no colo. como se já tivesse dito tudo o que queria dizer sem ao menos lembrar do que se tratava, ele apenas torna a olhar para frente, ritmando o toctoctoc em seus dedos. intercalava as batidas como se contasse em ímpares, e sabia que tudo o que tinha de ouvir, sem tê-lo ouvido, ela o dizia. seria capaz de responder a qualquer gesto que demonstrasse relação reação ao que ele fazia se soubesse que de fato ela respondeu.

 

ela havia, logo após ter entrado no carro, tomado um tempo, e decidido como que já fôsse planejado que, por acaso, sentaria ao seu lado. não lhe agradava o rosto pedante dos que carregavam livros em francês para distrair os olhares de curiosos pelo passeio. viu então um certo semblante de certeza de jornada, num rosto desapaixonado pelo caminho como só aqueles que já bem o conheciam poderiam exibir, num fardo que a pequena bagagem de mão não era capaz de representar. e pensava um pobre homem cansado em longa viagem e que tanto deve ter ao outro lado… faz a impertinência dos eruditos que rodeavam totalmente desinteressante, sem resquícios em sua alma. e seu olhar sereno, que tomava a mala com um senso de posse sem carinho, como se não fosse sua, mas com a qual se familiarizava, pensando são conhecidos, ele e sua mala, mas não se querem bem. apenas se precisam… o sentido que parecia vir das batidas ritmadas – menos ritmadas do que os ouvidos treinados de musicista a revelavam – era capaz de desencontrar seu olhar. serenidade irrequieta…

 

a espera era longa, mas não tanto assim lhe aparentava, pois em parte perdia-a caminhando até paradas anteriores. não podia ficar para trás, e o desconforto outorgado aos preguiçosos ameaçariam as preciosidades que carregava. era um dia em que não precisava ter levado seus objetos, e voltava com livros em francês bem emprestados do arquivo. o peso pressionava discretamente seu ombro direito, que entortava levemente seu caminhar. mas nada podia notar, posto que sentia seu passo de tal forma irregular e atenciosa que parecia-lhe natural os minutos distorcidos nas grandes e curtas passadas. levavam-no até o ponto, quando o carro, ainda vazio, aporta por um breve instante. toma um lugar a si, outro aos pertences, e logo se perde de si no movimento…-

 

Written by topsyturvydom

março 27, 2008 at 6:30 am

Publicado em confessions

delírios… (revisitada)

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‘Faria um quadro a cada face que opõe ao mundo’, eu dizia a ela, para quem a conquista faz terra arrasada nos olhares oblíquos irrequietos pelos quais podia suspirar. Soava um corpo de baile sem palco de palavra barata se seu sorriso não me viesse, tão necessário quanto minha pausa pra respirar que o seguia.

‘Pois quem sabe não ficas com os quadros enquanto procuro minha alma partida, ao invés dum mero admirador dessa clara obra de arte?’, me atenta ao mínimos detalhes e penso nunca de deixa na mão… ‘Aí se engana, ou acha que uma face não reflete mesmo à mais rasa das almas o concreto de que precisa para ser apreciada?’ ‘Além de tudo, não se contém no discurso idealista!’ ‘Mas tangível, como bem necessita minha alma… ‘ ‘Delírios à parte, vença o diálogo para que caminhemos ao ritmo apropriado.’ ‘Mas já perdi… tem-me aos pés’, e tomo um breve beijo que, bem quisto no seu discreto sorriso, dá o gosto de vitória até a quem cruzava em volta.

Esse caminhar cotidiano, a rigor, mantém-me o sangue circulando. Nela, a vida já lhe bem fez de seu vigor. E eu não poderia acompanhá-la se não fossem constantes minhas interrupções para ensaios românticos, que fazia parecer a tal criatividade um refúgio de dores de corpo, e ela diz… ‘Depois corre e corrige as palavras mal dadas num um momento de descanso.’ ‘Mas sabe que não tenho como controlar o que sai de mim nos momentos raros de espontaneidade!’ ‘Pois eu duvido que seja capaz de soltar a mente aos seus limites. Do que tens medo, psicopatia?’ ‘Não, já bastam minhas perversidades…’ e pensava como aprecio seus momentos de severidade – faço estripulias a fim de escapar de diretas objetivas, pois que faz minha luta comigo mesmo mais delicada. ‘Mas não tens medo?’ ‘Não creio que as testamos aos limites…’ e não tinha olhares diretos pra pedidos quase sinceros…

Até que dizia… ‘eu teria medo se não fosse tua cara ameaçadora’. Sentia-me tomar o caos, ‘destruo o mundo num gesto mal executado do plano perfeito’, e ela sabia de tudo, do todo. Mas eu contava com suas palavras… ‘caminha comigo agora, e sente o abraço do sol… tuas assertivas, cada uma delas, digo que não deves te preocupar, a troco de folia…’ E ela pensava e que tudo, e que tanto do mal escrito, e que as palavras desperdiçadas e mal compreendidas sejam de todo úteis para os bens que lhe tenho de dizer das novas de que tudo já sabe – quero sair do mundo meu para viver com todo desprendimento de uma queda livre o amor distante e íntimo dum casal privado de tudo menos um do outro – e veja tudo no meu olhar de negação dos seus subterfúgios, pois noto por entre seu severo toque um medo da vida que me motiva, sobretudo, a expulsá-lo da própria mente – e faz como não pensa!, deve dizer e a tudo o mais que lhe acusar inocente e puro… pueril e frágil, pois a covardia não é o medo da vida, hercúleo e notório, mas subestimar a potencialidade duma existência a materialidade… nisso é mais vivo que heróis de guerra vitoriosos… mesmo quando busca minha face – ‘só vive, nada deve a quem confronta’. ‘Eventuais retratações por incompetênci-‘, ‘Cuida-te apenas!’, e ela pensava sim eu te amo. Não notei.

Ofegantes e descansados, nosso entreolhar divagava num mundo só, e a intimidade inexistente do tocar num riscar sensível de braços saciava o impulso antropofágico. Ela abraça as próprias pernas e olha ao passeio deixado para trás, enquanto eu me acomodo no espaço de sombra que me restou, sem ultrapassar os limites da livre-decência. Dizia, sem (com muito) sentido, ‘que sente quando lhe contam más notícias esperadas’. ‘Alívio… impaciência, quando fogem do que urge…’ ‘Mas eu tomo tempo para respirar’, e pensava sempre ela soube que quanto a mim as coisas dão nós terríveis e tornam minha maturidade partida e corrompida a ponto inidentificável – quero e como quero tudo o que de mim é impulso e a derrubaria sobre os campos em amar mas que há de se resolver d’então, quando sei que o que é fácil me torna burocrático na mente, como o que se eternamente ama a distância e releva para perder-se sozinho na descoberta, sem algum proveito que acorde a seu desamor… o seu desamor… Sem respirar, ela disse o que bem me lembro…

‘Um delírio… tens?’ e pensava impressão minha ou ama-me também?

…eternamente

Written by topsyturvydom

março 9, 2008 at 1:54 pm

Publicado em confessions